terça-feira, 9 de novembro de 2010

O rolo do Enem: como dar um tiro no pé e acertar 4,6 milhões de estudantes

Você que está lendo este blog pode ter sido um dos 4,6 milhões de estudantes que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio no final de semana. Se você fez, está sabendo do rolo todo. Mas você pode não ter feito e estar perdido no meio da gritaria a respeito. Vou tentar resumir aqui.

O exame, que verifica o grau de conhecimento dos estudantes ao final do ensino médio,é uma prova geralmente bem elaborada e pé no chão. Questões boas - editei neste ano alguns volumes didáticos sobre matemática para o Enem e gostei bastante das questões. A ideia é excelente. O problema é de gestão.

A prova teve neste ano erros de formulação em algumas questões e problemas de impressão nas folhas de respostas de 21 mil cadernos distribuídos. Isso confunde o estudante na hora de responder, e induz a erros prejudiciais. Segundo a gráfica que imprimiu as provas, não dava pra revisar por causa do sigilo da prova e os erros estão "dentro da margem de erro industrial" (o erro teria atingido só 0,33% dos impressos). O edital, segundo o Estadão, exigia que o órgão que elabora o Enem, o Inep, revisasse tudo - e segundo a gráfica havia impressos excedentes pra substituir os errados. Enquanto isso, a Justiça suspendeu o Enem até o ministério dar um jeito na situação.

Pior: é o segundo ano seguido que dá problema com o Enem. No ano passado, funcionários da gráfica vazaram os resultados da prova e ela precisou ser remarcada. Isso mexe com a grana de verdade, que rola nas licitações - cerca de R$ 128 millhões. O MEC dispensou a licitação da aplicação e correção das provas e assinou um contrato mais caro. Na licitação da gráfica também deu briga. Mas a festa mesmo é quando nossos caríssimos políticos começam o esgrima verbal.

Quem se ferra é o coitado do estudante. Que é eleitor. Algumas universidades usam a nota do Enem pra abonar a nota do vestibular ou como critério para bolsas. O Ministério da Educação quer reaplicar a prova em 27/28 de novembro ou 4/5 de dezembro, mas tem vestibulares marcados pra esse dia. E já tem universidade questionando o uso.

A desgraça do eleitor é SEMPRE a festa da classe política. Para governo, oposição e respectivos puxa-sacos, é tudo desculpa para seu grenalzinho e sua dancinha das cadeiras.

Nos debates eleitorais, José Serra dizia que o governo da Dilma Rousseff "desmoralizou" o Enem, enquanto Dilma dizia que Serra e seus aliados "eram contra" a prova.

Agora, que deu mais um problema, o ministro da educação doura a pílula ("a vantagem do Enem é que ele poderá fazer a prova depois sem prejuízo").

Reagindo, o presidente Lula diz que de qualquer maneira a prova é um sucesso e que as críticas vêm de "gente que não se conforma com o Enem".

A Comissão de Educação do Senado, presidida pela oposição, convocou o ministro Paulo Haddad pra explicar o rolo todo.

Como vem governo novo aí, o episódio aquece as especulações sobre o novo ministério (filme queimado, dificilmente o ministro Haddad fica no ano que vem).

Se você lê este blog com atenção, já sabe há tempos: o grande conflito no Brasil não é entre governo e oposição, ou petistas e tucanos. É entre classe política e eleitorado, embora em época de eleição parte do eleitorado ache que tem que torcer por algum político.

Só o problema do coitado do estudante que continua lá. Alguém aí resolve? Porque quem é pago pra resolver não tá ajudando muito.

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