quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Novo seriado da Globo reflete mudanças da família brasileira

Alexandre Nero e Ingrid Guimarães no humorístico 'Batendo Ponto'. Foto: Divulgação

A Globo insiste em sua busca de diferentes formatos de humor. Enquanto Zorra Total se mantém firme e forte aos sábados, com seus esquetes e bordões, novas experiências se aproximam dos seriados norte-americanos, em especial, S.O.S. Emergência. Mas não é o único. O modelo de histórias curtas, que começam e se encerram em um único episódio, também inspirou outros ótimos seriados nacionais, como Faça a Sua História ou A Diarista, por exemplo. Batendo Ponto, que estreou terça passada, também se aproxima dos "sitcoms".




A nova produção é ambientada em um escritório, tema mais do que recorrente nos seriados estrangeiros, como Drew Carey Show e os recentes The Office e a britânica The It Crowd, entre muitos outros. Na medida em que o trabalho supera em tempo e em relacionamentos o núcleo familiar, é o escritório que passa a ser tematizado pela teledramaturgia.



Assim os seriados dos Estados Unidos, de certa maneira, acabam retratando as transformações da sociedade da sociedade norte-americana. Um Agente 86 representa o americano solteiro na grande cidade dos anos 60, enquanto Mary Tyler Moore, dos 70, apresenta a mulher que trabalha e cujo projeto de vida não inclui o casamento. Mesmo uma comédia sempre distante dos escritórios, como Friends, dos 90, também apresenta esses novos arranjos "familiares", assim como The Big Bang Theory, em sua misógina comunidade universitária.



Pulverizada nas grandes cidades e substituída pelos amigos - e inimigos - do trabalho (Mad Man), fragmentada e achincalhada pelo individualismo hedonista (Two and a Half Men) e morta e dissecada em ambiente funcional (C.S.I.), só resta à família o exílio nos subúrbios (Eu, A Patroa e as Crianças) ou nas cidades do Meio Oeste, sejam a hipócrita Springfield (Os Simpsons) ou a ingênua Orson (The Middle).



Batendo Ponto traz essa dimensão social para a teledramaturgia brasileira, ainda apegada à Casa Grande & Senzala dos núcleos ricos e pobres das novelas. Em uma empresa fabricante de cola, a chegada do novo chefe Guilherme, de Pedro Paulo Rangel, causa apreensão aos funcionários, entre eles, Nestor, de Stenio Garcia, Caíque, de Alexandre Nero, e a secretária Val, de Ingrid Guimarães.



A direção de José Lavigne manteve firme o roteiro de Paulo Cursino, sem escorregões em outra forma de humor recorrente no Brasil, a chanchada. O gênero mais careteiro, corporal e coreográfico costuma se sobrepôr ao texto, que se torna mero fio narrativo entre os solos dos comediantes.



Batendo Ponto procura um caminho diferente. E paga o preço por isso. Com exceção do brilhante Pedro Paulo Rangel, o resto do elento estava aquém de suas possibilidades - se aqui é possível usar o termo - dramáticas.

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