segunda-feira, 26 de julho de 2010

'Ti-ti-ti' faz bonito ao modernizar base da história de Cassiano Gabus Mendes


Novelas das sete costumam carregar em exageros. Quando dirigidas por Jorge Fernando então, nem se fala. Mas o diretor, em seu 32º folhetim, parece conseguir a medida certa entre o que deve parecer mais caricato e o que, para conseguir atrair públicos de todas as idades, pode ganhar mais cuidado. Em Ti-ti-ti, os dramas não se perdem em meio às agulhas e fitas métricas que estampam não só a abertura, mas também as mudanças de cenas. Apesar das cores fortes e das frescuras caricatas do mundo da moda ¿ ou, pelo menos, da forma como a maioria das pessoas o enxerga. Desde a dor da mãe que perde o filho em um acidente de carro, enquanto enfrenta um duro tratamento de quimioterapia, à órfã que sofre uma desilusão amorosa ao ser chamada de golpista pelo namorado, de quem espera um bebê. Tudo parece ser milimetricamente calculado - e por que não costurado - no texto de Maria Adelaide Amaral para que suas tramas provoquem risos, mas também sejam capazes de mexer nas emoções de quem assiste. E, por enquanto, é isso que a autora consegue.

A briga quase adolescente de André Spina e Ariclenes Martins, personagens de Alexandre Borges e Murilo Benício, começou garantindo boas pitadas de humor à novela. É cedo para discutir quem vai se destacar mais na história, embora ambos pareçam ter feito bem a lição de casa na hora de suas composições. Enquanto Alexandre abusa dos trejeitos na hora de encarnar o estilista Jacques Leclair, garantindo risadas, Murilo encarna um malandro simpático e carismático até ao desdenhar uma oferta de emprego, mesmo desempregado e sem um tostão. Suas cenas em casa, aliás, ganham um tempero a mais com a atuação marcante do adolescente Humberto Carrão, que já impressionou quando encarnou o vilão Caio na temporada passada de Malhação. Mais até que os protagonistas Daniel Dalcin e Micael Borges, fazendo com que a autora Patrícia Moretzsohn apostasse na recuperação do jovem mau-caráter e garantisse seu final feliz ao lado da mocinha Marina, de Bianca Bin.

Algo que chama mesmo a atenção neste início de Ti-ti-ti é o resgate ao passado que a novela proporciona. A abertura original, na época feita manualmente, com o auxílio de ímãs, foi recriada através de efeitos de computação. Além disso, a trilha sonora também aposta no antigo, trazendo de volta canções como Seu Tipo, de Luis Carlos Goes e Eduardo Dusek, com Ney Matogrosso; Decadance Avec Elegance, na voz de Zélia Duncan, e True Colors, sucesso de Cindy Lauper, que embalou as cenas de carinho entre os gays Osmar e Julinho, de Gustavo Leão e André Arteche.

Não rolou beijo, mas a relação homossexual foi tratada com mais trocas de afeto do que geralmente se vê na TV. Algo até previsível, já que não haveria necessidade de qualquer falso moralismo ali. Aos olhos de quem pudesse condenar o casal, a morte de Osmar e o câncer de Bruna, mãe do rapaz, vivida por Giulia Gam, já seriam castigos suficientes. Em tramas anteriores, como Torre de Babel, de Sílvio de Abreu, as lésbicas Leila e Rafaela, de Sílvia Pfeifer e Christiane Torloni, tiveram de morrer em uma explosão por conta do preconceito manifestado na época. Mais recentemente, Rodrigo e Tiago, de Carlos Casagrande e Sérgio Abreu, mal se tocavam em Paraíso Tropical, parecendo mais dois amigos do que um casal. A partir de agora, com Julinho vivo e solitário, é que a novela vai realmente mostrar se o horário está aberto ou não a esse tipo de abordagem.

Ti-ti-ti - Globo - Segunda a sábado, às 19h15.


fonte;terra

Nenhum comentário: