segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Atuações assombrosas dominam a série 'A Cura'


A Cura, minissérie da Globo, poderia ser considerada apenas mais uma exploração de temas paranormais. Os mesmos que fazem sucesso na novela Escrito nas Estrelas, da mesma emissora, que levanta a 26 pontos o ibope do horário das seis. Mas também é um respeitável thriller psicológico com atuações convincentes e uma fotografia carregada no claro-escuro que descansa os olhos do eterno meio-dia das novelas e seriados.

Não deixa de ser interessante pensar na própria TV como um medium, ou meio de comunicação para estas imagens desencarnadas baixarem nos lares de todo o país com histórias fantásticas. São fantasmas na máquina que costuma assombrar mais pelo tédio do que pela surpresa.

O escritor João Emanuel Carneiro, porém, soube aproveitar o tema popular. As operações mediúnicas sempre alimentaram os fait-divers de jornais sensacionalistas e a imaginação dos brasileiros. A escolha de Minas Gerais como cenário para a saga de Dimas, um médico capaz de realizar operações paranormais, retoma histórias famosas. Como a do minerador Zé Arigó, que passou a realizar operações mediúnicas e ganhou fama internacional.

Desde o século XIX, o interesse por fenômenos paranormais tornou-se comum naquele Brasil positivista, com sessões espíritas, materializações de ectoplasmas e uma medicina investida de um poder sobre a vida e a morte quase sobrenaturais. A despeito da força da igreja católica, os terreiros, os médiuns e videntes ganharam muito espaço em jornais e revistas e se popularizaram em todo o país. A atual onda de filmes, livros e novelas sobre o assunto reincorpora a tendência.

A minissérie consegue manter um ritmo tenso, graças a uma ágil edição e um roteiro repleto de acontecimentos. Mas o melhor de A Cura é a atuação de um elenco afiado como um bisturi. Selton Mello compõe com rigor um paranormal sem óbvios olhos revirados e contorções faciais. Caco Ciocler vive um médico ciumento com idêntica sutileza de gestos e o máximo de expressão. E Ary Fontoura, quase sempre desperdiçado em comédias ligeiras, assume com segurança e credibilidade o diretor de um hospital com feridas do passado. Apenas as caretas de dor e os dentes de buldogue de Carmo Dalla Vecchia destoam do restante dos atores.

Mas é Inês Peixoto quem rouba a cena com uma atuação primorosa, da expressão corporal e máscara facial naturalista e à intensidade emocional que empresta a sua estranha Edelweiss. Com interpretações assim, pode-se até acreditar que a TV tem muito mais a oferecer em dramaturgia que o humor careteiro e o drama de carregação.

Como nada é perfeito, a série também tem lá suas escorregadas. Como um ataque de índios saído de um bangue-bangue barato e a manjadíssima câmara lenta para fuga de Dimas em meio à procissão. Um desnecessário clichê.

A Cura - Globo - Terças, às 22h35.
Terra

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