A timidez de Liliana Castro dá lugar a uma empolgação invejável cada vez que se fala da atrapalhada Filomena, sua personagem em Ribeirão do Tempo. Mas, aos 31 anos de idade e com 11 de carreira televisiva, a atriz garante que isso não tem relação com a posição que ocupa no folhetim - essa é a sua primeira protagonista na TV. A satisfação se justifica nas características apontadas na sinopse de Marcílio Moraes para a garçonete da cidade fictícia que dá nome à novela. Ainda mais diante do desconforto que Liliana transparece ao conceder entrevistar e posar para fotos. "As pessoas sempre me associam aos meus personagens. Acho que a maior parte do público que me assiste não deve saber nem meu nome. E, sinceramente, não faço a menor questão de agir diferente", afirmou.
Por isso mesmo, Liliana encara quase que como um trunfo o aplique móvel de cabelo que utiliza em suas cenas. Fora das gravações, seu corte chega apenas até os ombros, fazendo que várias pessoas nas ruas tenham dúvidas sobre de onde a conhecem. "É estranho aparecer com uma cara na novela e, fora dela, estar diferente. Quem reconhece mesmo pergunta se eu mudei o visual para uma transformação na novela", divertiu-se ela, que já experimentou um "disfarce" em outro trabalho na televisão. "Quando fazia Alma Gêmea, eu usava óculos. Quando eu colocava, deixava o pessoal na dúvida. Mas era só tirar para reconhecerem a Luna", lembrou.
Na trama, Filomena é uma jovem que pena com as bebedeiras do pai alcoólatra, o pintor Querêncio, vivido por Taumaturgo Ferreira. E ainda sofre por amar o aventureiro Tito, de Ângelo Paes Leme, que mesmo depois de transar com ela, só tem olhos para a noiva Karina, interpretada por Juliana Baroni. Apesar de tantos motivos para ser uma personagem dramática, Filó tem lá suas pitadas de humor. Especialmente agora, que uma reviravolta na história promete melhorar - e muito - a vida da garçonete. "Com a descoberta de que ela é herdeira de uma grande fortuna, muitas mudanças estão previstas na história", adiantou Liliana, confirmando que Querêncio é o filho da sisuda Madame Durrel, de Jaqueline Laurence. "Me deram uma oportunidade de mostrar um trabalho bem diferente, com extremos que vão da doçura à explosão", valorizou.
Encarnar uma garçonete foi até um "déjà vu" para Liliana, que viveu a intensa Laiza de Sabor da Paixão, que também trabalhava em um bar. Mesmo assim, a atriz fez um laboratório numa das filiais cariocas da rede de restaurantes Outback Steakhouse. "Queria aprender a carregar bandeja e ganhar agilidade servindo", explicou. Mas a principal característica de Filomena - pelo menos nessa fase inicial - veio junto com o figurino escolhido para a personagem. "Ela é toda troncha. Muito marcada por tons pastéis, sem atrativos, meio apagada. As roupas são enormes para não marcar em nada o corpo", disse.
Acostumada a cenas de ação depois que viveu a vidente Janete em Caminhos do Coração e em Os Mutantes, Liliana hoje agradece não fazer parte do núcleo de esportes radicais da novela. "Já cumpri minha cota de efeitos especiais e aventura", brincou. Nem mesmo o alcoolismo de Querêncio deve ser abordado de forma mais didática na novela. Tanto que a atriz não sentiu necessidade de buscar informações mais específicas sobre o assunto ou frequentar grupos de apoio a familiares que sofrem com a doença de parentes próximos. "É uma realidade que não está distante de ninguém. Todo mundo conhece alguém que é assim ou que tem alguém assim na família. Não precisa nem ser álcool, existem várias prisões como essa", ponderou.
Ribeirão do Tempo - Record - Segunda a sexta, às 22h.
Laços estrangeiros
Liliana é filha de um brasileiro e uma argentina, mas nasceu mesmo no Equador. Seu pai é diplomata e, por isso, se acostumou às mudanças repentinas. Só soube o que era morar no Brasil aos 16 anos. Tantas idas e vindas pelo mundo fizeram com que ela não só aprimorasse seus talentos na interpretação, dança e canto, mas também com que falasse três idiomas fluentemente, além do português. "Domino espanhol, inglês e italiano, mas ainda vou aprender francês. É uma cultura que serve de estofo na hora de criar determinados personagens", valorizou Liliana, mesmo confessando que nunca teve a oportunidade de usar tudo o que aprendeu em um personagem.
A estreia profissional veio aos 18 anos, na peça As Fúrias, com Antônio Abujamra. Na TV, participou de alguns capítulos de Força de um Desejo, em 1999, mas já em 2002 conquistou um papel de sucesso quando foi chamada para viver a bartender Laiza de Sabor da Paixão, na Globo. A partir daí, marcou presença no infantil Ilha Rá-Tim-Bum, da TV Cultura, e nas novelas Da Cor do Pecado e Alma Gêmea, vivendo nesta última a alma penada Luna. Só em 2007 assinou com a Record, para viver a mutante Janete em Caminhos do Coração, que está sendo reprisada atualmente. "Meu contrato vence no ano que vem e não sei o que vai acontecer depois. Mas acho que esse tempo serviu para que eu pudesse ver que dá para estar na TV e fazer outras coisas também. Se eu puder, pretendo continuar assim", torceu.
Instantâneas
# Antes de trabalhar como atriz, Liliana chegou a fazer comerciais na Venezuela e na Itália, países onde morou.
# Liliana aproveitou as férias entre Os Mutantes e Ribeirão do Tempo para estudar interpretação e dança em Londres durante seis meses. "Como a Record não tinha planos para mim naquele período, quis investir esse tempo na minha formação", contou.
# A atriz tirou seu registro profissional em 1998, quando terminou o curso de Artes Cênicas da Univercidade, no Rio de Janeiro.
# Liliana Castro fez parte da companhia de teatro Armazém.
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