Passione é uma novela de reviravoltas. Nestes pouco mais de três meses no ar, o autor Silvio de Abreu não economizou nas armadilhas, roubos e traições que batem ponto em quase todos os núcleos e dão à novela um ritmo que há muito não se via no horário nobre da Globo. Mas, em meio a tantos personagens com desvios de caráter - alguns até bem carismáticos, como a vilã Clara, de Mariana Ximenes -, a novela deixa a desejar justamente naquilo que, a julgar pelo nome, deveria ser o forte: os romances.
Os triângulos amorosos estão sempre presentes na trama de Silvio de Abreu. Seja no caso da dupla de vilões que articula um golpe no herdeiro rico, na mãe e filha apaixonadas pelo mesmo homem, no italiano malandro que tem duas mulheres ou na mocinha bondosa que se divide entre dois amigos. Mas nenhum deles carrega a dose de carisma necessária para despertar uma grande torcida por um casal específico. E, se em todo bom folhetim existe um par de mocinhos que gera comoção em sua luta para ficar junto, em Passione essa função ainda não foi preenchida. Culpa, principalmente, dos desinteressantes dilemas amorosos entre Diana, Gerson e Mauro, personagens de Carolina Dieckmann, Marcello Antony e Rodrigo Lombardi, que eram a principal aposta romântica no início da novela, mas que - como tem sido rotina nos folhetins do horário - não decolou.
O romance monótono entre os personagens do núcleo Gouveia pode ter vários motivos. Talvez o principal deles seja a atuação inexpressiva de Carolina Dieckmann, que parece perdida em um elenco repleto de veteranos e faz de Diana uma das personagens mais sem graça da trama. Ou então do perfil certinho demais de Mauro, papel bem conduzido por Rodrigo Lombardi, mas que, sem muitas nuances, parece saído de alguma história romântica do século retrasado. Para piorar, ainda existe o vício misterioso de Gerson, de Marcello Antony, que, quando fica sozinho em frente ao computador, faz um suspense tão caricato que chega a parecer um espião da extinta União Soviética em época de Guerra Fria.
Para compensar os fracos romances, os dramas familiares ganham cada vez mais destaque. E rendem os melhores momentos da trama, seja nas disputas por poder na tumultuada família Gouveia, no Ceagesp ou no núcleo italiano. Ao lado dos sempre comoventes Aracy Balabanian, Tony Ramos, Vera Holtz e Fernanda Montenegro, alguns novatos vem conquistando seu espaço na história, como é o caso da estreante Mayana Moura, sempre segura como a geniosa Melina, e da jovem Bianca Bin, intérprete da ingênua Fátima. E se sobressaem em uma trama repleta de personagens muito lineares, como os maquiavélicos Saulo, de Werner Schunemann, e Fred, de Reynaldo Gianecchini, que ostentam em todas as cenas as mesmas caras e bocas vilanescas.
Mas os tons exagerados também estão presentes na parte cômica da novela. E, apesar de garantir alguma diversão, as cenas do bígamo Berillo, de Bruno Gagliasso, tentando manter em segredo seu casamento com Jéssica e Agostina, de Gabriela Duarte e Leandra Leal, são, em sua maior parte, bobas. Em interpretações exageradas e cheias de caretas, a novela aposta em um humor quase pastelão. Mas que talvez seja necessário para contrabalançar a densidade da trama, que, entre tantos dramas e reviravoltas, marca, no máximo, básicos 37 pontos de audiência.
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