quarta-feira, 7 de julho de 2010

Márcio Garcia diz que seu vilão em 'Na Forma da Lei' é único


Márcio Garcia se esforça para manter o semblante sério e os olhos apertados ao falar do sanguinário Maurício, seu personagem no seriado Na Forma da Lei, da Globo. Mas bastam poucos minutos de conversa para o descontraído ator de 40 anos deixar a postura rígida de lado e transparecer toda sua empolgação em fazer o grande vilão da trama de Antônio Calmon. Entre muitos adjetivos e longas análises do personagem, Márcio se mostra confortável em interpretar mais um mau-caráter na TV, tipo que lhe rendeu seu maior destaque como ator em 2003, quando viveu o michê Marcos de Celebridade. "É muito mais fácil para o ator quando você tem um personagem muito bem definido. Acho que, na história da Globo, nunca houve um vilão que botasse tanto a mão na massa quanto o Maurício", especulou o ator, que antes de voltar para a Globo viveu o traficante Paulo Barão de Prova de Amor e o policial corrupto Jorge Alencar de Vidas Opostas, ambas da Record.

E o convite para interpretar o psicopata Maurício veio justamente em função da aparência dúbia de Márcio. Tudo porque o autor Antônio Calmon não queria um vilão que parecesse muito mal, já que o personagem apresenta um lado mais humano quando está com a família. "O Calmon disse que eu fiz um vilão com carisma em Celebridade e que queria esse lado bacana no Maurício. É um contraponto importante", explicou.

Nos últimos sete anos, três dos quatro personagens que você fez na TV eram vilões. O que o Maurício traz de novo?
O Maurício é um psicopata que tomou gosto pelo assassinato, veio do berço da impunidade e é capaz de tudo para conseguir o que quer. Matar 15 pessoas em oito episódios é muita coisa. Ele é um vilão açougueiro. Um personagem que exigiu muito de mim por ter uma carga forte demais. As cenas de raiva eram complicadas. Eu saía pesado e algumas vezes nem consegui comer depois. Mas o trabalho do ator é esse. Tem de segurar.

O seriado dialoga com conhecidos formatos norte-americanos. Você buscou referências neles para compor o Maurício?
Sempre tem inspiração em algum seriado estrangeiro, mas as referências que busquei foram basicamente do filme O Profissional, de Luc Besson, que conta a história de um assassino profissional que protege uma menina que tem os pais mortos por policiais corruptos. Acho o Maurício muito parecido com o personagem do Gary Oldman, que era um policial viciado em drogas. É uma pessoa que mata sorrindo, não se sente culpada e fica feliz quando vê a vítima. O Maurício tem um pouco disso e minha maior inspiração foi o Gary Oldman. A gente vê muita coisa ruim atualmente, mas acho que pessoas como o Maurício dificilmente são pegas. Só dá para buscar mais em filmes.

Mas você precisou de algum treinamento específico?
Eu já tinha certa intimidade com as armas. Fiz aulas de tiro para outros trabalhos e sei que o mais difícil é não reagir ao barulho e manter a postura. É claro que o ator nem precisa saber atirar. Eu aprendi porque achei bacana na época. No seriado, usei armas cenográficas e de verdade. Hoje tem muito mais restrições do que há algum tempo, por questão de segurança. Mas é interessante. Estudei um pouco mais e vi alguns vídeos na internet para me atualizar. Também malhei bastante e fiz exercícios para melhorar o meu condicionamento físico.

Depois de 16 anos atuando em novelas, como é a experiência de protagonizar um seriado?
Trabalhar em uma obra fechada é mais legal. Você lê a história inteira e já sabe direitinho qual rumo tomar. Na novela você começa a fazer e de repente muda tudo. Passam a gostar ou desgostar do personagem e ele vai de bom a mau de uma hora para outra. Sem contar que um seriado já vai ao ar com quase tudo pronto. Não espera um feedback do público para a coisa mudar. O vilão geralmente tem um final infeliz, que é o que todo mundo quer. Em um seriado desses você já começa com data para morrer. E isso é muito bom.

Essas mudanças no personagem foram significativas no Bahuan, em Caminho das Índias. Como você avalia isso?
Foi difícil, mas já passou. Fui muito criticado na época por ser inexpressivo, mas os "dalits" são assim. Pesquisei meses sobre eles. É claro que ninguém gosta de ouvir críticas, mas isso é até bom para aprender e repensar algumas coisas. Tenho consciência de que nem sempre os personagens acontecem. Adorei a novela e fico feliz pelo sucesso dela.

Quais são suas expectativas com relação a Na Forma da Lei?
São bem altas. O mais gostoso de um trabalho de oito episódios é que você faz um concentrado. É um ritmo de novela, em que você se prepara para correr uma maratona, mas na verdade corre 100 metros rasos. Parece que você tem o tempo de uma novela, mas tem de contar 10 capítulos em um. Está todo mundo muito visceral. É um trabalho muito bacana e creio que todos estão impressionando. As pessoas saíam do estúdio chorando. Quando a gente perguntava o que houve, elas respondiam: "nada, estava apenas gravando".

Você saiu da Record, em 2008, com a promessa de ter um programa na Globo, que até agora não aconteceu. Como está sua situação na emissora?
Eu não tinha um projeto específico quando vim para a Globo. Voltei para a emissora com três contratos: diretor de criação, ator e apresentador. Exerço a função que tiver de exercer. A Globo cobriu o meu salário na Record e ofereceu a chance de fazer outros trabalhos. Saíram em alguns jornais que eu já apresentei vários projetos, o que não aconteceu. Sempre trabalhei em quatro mãos. Nunca fui de criar sozinho. Trabalho com outras pessoas que me ajudam a desenvolver as ideias. Assim é e assim será.

Mas você já tem algum projeto em andamento?
Sim, a gente tem um projeto que ainda está no forno e tem sido guardado a sete chaves. A questão é adequar e pontuar as ideias para fazer um piloto. Mas estou na boa. Não estou fazendo nada com pressa. Não precisa de correria. Sou um jovem ainda, tenho 40 anos.

Na Forma da Lei - Globo - Terças, às 22h50.

Em outras fronteiras
Enquanto o seriado Na Forma da Lei é exibido no Brasil, Márcio se dedica, nos Estados Unidos, às filmagens do longa Bed & Breakfast, do qual é diretor. O filme, uma comédia romântica estrelada por Juliana Paes, Marcos Pasquim e Danny Glover, será quase todo rodado em Los Angeles. "Filmamos sete cenas no Brasil e vamos fazer o resto nos Estados Unidos. Tivemos de acelerar tudo por causa da gravidez da Juliana", contou Márcio, que contracenou com a atriz em Caminho das Índias no ano passado.

O filme conta a história de uma brasileira que herda uma propriedade na Califórnia e, ao chegar lá, descobre que um homem tomou posse do local há anos. Com estreia prevista para o ano que vem nos Estados Unidos, o longa só deve chegar ao Brasil em um ou dois anos. "Minha ideia é lançar primeiro no exterior, que dá um retorno maior. Termino de rodar e depois volto ao Brasil para ficar às ordens da Globo", avisou o ator.

Dupla jornada
Ao longo de 18 anos de TV, Márcio Garcia sempre gostou de acumular funções. Este carioca de 40 anos começou sua carreira em 1992 no comando do programa MTV Sports e, dois anos depois, fez sua estreia nas novelas como o ciumento pescador Cassiano de Tropicaliente. "Foi com o MTV Sports que ganhei intimidade com a câmara e desenvoltura como apresentador. O programa me deu muita base", avaliou.

Durante três anos, ele conciliou os trabalhos de apresentador da MTV e ator da Globo. E acredita que a experiência foi fundamental para o sucesso no comando do Gente Inocente, da Globo, e do O Melhor do Brasil, da Record. "Foram duas experiências fantásticas. Em um pude mergulhar no universo infantil. No outro, coloquei a mão na massa e amadureci muito", analisou o ator e apresentador, que diz não saber quando voltará a comandar um programa. "É algo que me sinto à vontade fazendo e acredito que tenho vocação para isso. Mas ainda não tenho nenhum retorno planejado", desconversou.

Trajetória televisiva
# MTV Sports (MTV, 1992) - Apresentador.
# Tropicaliente (Globo, 1994) - Cassiano.
# Cara e Coroa (Globo, 1995) - Guiga.
# Anjo de Mim (Globo, 1996) - Nando.
# Ponto a Ponto (Globo, 1996) - Apresentador.
# Anjo Mau (Globo, 1997) - Luiz Carlos Machado.
# Malhação (Globo, 1998) - Adriano.
# Andando nas Nuvens (Globo, 1999) - Arnaldo San Marino.
# Gente Inocente (Globo, 1999) - Apresentador.
# Celebridade (Globo, 2003) - Marcos.
# Sem Saída (Record, 2003) - Apresentador.
# Prova de Amor (Record, 2005) - Paulo Barão.
# O Melhor do Brasil (Record, 2005) - Apresentador.
# Avassaladoras - A Série (Record, 2006) - Caíque.
# Vidas Opostas (Record, 2006) - Jorge Alencar.
# Caminho das Índias (Globo, 2009) - Bahuan.
# Na Forma da Lei (Globo, 2010) - Maurício Viegas.
Fonte ; terra

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